Livros para ilha deserta

Certo dia, em 2018, um amigo me perguntou: se você pudesse levar cinco livros para uma ilha deserta, quais seriam? Na época, eu fiquei desesperada por não conseguir responder. Eu estava com tantos livros novos para ler, para adquirir… Se esse fosse o enigma da esfinge, eu estaria perdida.

Não me lembro qual foi minha resposta, o fato é que essa pergunta ficou ecoando em mim até hoje. Depois de muito refletir, cheguei à conclusão de que eu deveria levar para ilha livros que fossem significativos para mim, livros que conversassem uma conversa diferente cada vez que fossem abertos. 

Pensando nisso, gostaria de compartilhar com você, leitor, os livros que eu levaria, se fosse HOJE para uma ilha. Ressalto esse hoje porque essa lista é passível de mudanças, assim como ela mudou na última vez que pensei sobre isso. Além disso, não pretendo ser reducionista ou descaracterizar o valor de outras obras não citadas aqui. Meus critérios de seleção são puramente pessoais; tais livros têm valor afetivo e um sentido especial para mim.

O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint Exupéry

Além de ser uma obra francesa, a linguagem da infância presente neste livro me encanta e aquece o coração toda vez que eu o leio. Esta leitura me traz leveza e ela sempre toca, de forma assertiva, em algum ponto espinhoso da adultez (o que me faz entrar em um estado catártico e reflexivo). É uma obra muito simbólica para mim. Eu penso que a li pela primeira vez no momento certo. Já trabalhei com ela em um curso de extensão sobre literatura infantil francesa que ministrei na UEM em 2018 e tenha uma pequena coleção com distintas edições do livro.  

Mais de 100 histórias maravilhosas, de Marina Colasanti

Esse livro reúne todos os contos maravilhosos que Colasanti escreveu durante sua carreira. Conheci alguns de seus contos na graduação e foi amor à primeira vista. O que mais gosto nesses contos, além da linguagem extremamente simbólica e poética, é o poder que eles têm de nos fazer viajar e de comunicar a mensagem certa que precisamos ouvir. A psicanálise explica melhor o poder que os arquétipos dos contos de fadas e contos maravilhosos exerce em nós. Toda vez que revisito esta obra, depreendo novos sentidos.

Dicionário de símbolos, de Chevalier e Gheerbrandt

Talvez você ache estranho ter um dicionário nesta lista, mas eu realmente não me vejo sem este dicionário. Eu sempre o consulto para entender melhor os sentidos que os textos trazem e também o uso bastante para escrever. O dicionário de símbolos me acompanhou durante todas as análises literárias feitas na academia e ainda me acompanha na tentativa de compreender a simbologia contida nas obras.

O arco e a lira, de Octávio Paz

Esse livro é sensacional. Confesso que tive dificuldades com a linguagem e as referências ao lê-lo pela primeira vez, mas, conforme fui amadurecendo meu olhar, pude perceber que O arco e a lira é um dos tratados mais bonitos sobre poesia. Esta obra me faz refletir sobre os poemas, o fazer poético e a poesia. Ela merece ser meditada (e o contexto da ilha deserta seria perfeito).

Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés

Mais um livro que me ajudou em meus processos de autoconhecimento. Além disso, ele concilia minhas temáticas favoritas: contos, contação de histórias, criatividade e o feminino. É um livro para vida toda e que, a cada nova leitura, abre nossa olhar para uma questão específica. 

Extra: Poesia Completa, Manuel de Barros

Eu amo ler poemas e tenho predileção por vários poetas brasileiros (Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Carlos Drummond de Andrade João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Angélica Freitas, Conceição Evaristo e a lista segue), mas acho que o Manuel, além de ter uma linguagem sensível, tem uma metapoesia que é perfeita para quem se arriscar no mundo da escrita (sobretudo, de poemas).

Bem, esses seriam os cinco livros que eu levaria para uma ilha deserta. Se eu pudesse levaria mais alguns na bagagem. Essas leituras dizem muito sobre mim e refletem na minha escrita. E, você, quais livros levaria para uma viagem dessas?

Foto de Foto de Wallace Chuck

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